Riscos Ambientais em Operações Portuárias: Como Mitigar?
As operações portuárias constituem um vetor essencial para o comércio exterior brasileiro e, por sua natureza complexa e intensiva em recursos, são classificadas como potencialmente poluidoras ou capazes de causar degradação ambiental, conforme previsto no Anexo 1 da Resolução CONAMA nº 237/1997. Devido à diversidade de cargas — muitas delas perigosas — e à elevada intensidade operacional, os portos exigem estratégias robustas de prevenção e controle de riscos ambientais, com base em legislação específica, engenharia ambiental aplicada e gestão integrada.
Este artigo da GreenView Engenharia & Consultoria Ambiental, analisa os principais riscos ambientais associados às operações portuárias e discute as melhores práticas de mitigação sob uma perspectiva técnica, normativa e baseada na realidade operacional brasileira.

Riscos Ambientais em Operações Portuárias: Como Mitigar?
Principais Riscos Ambientais em Áreas Portuárias
Derramamento de Óleos e Derivados de Petróleo
Derramamentos podem ocorrer em operações de abastecimento, transferência ou falhas operacionais em navios, tanques e equipamentos de cais. Os impactos incluem:
- Contaminação da água e dos sedimentos;
- Redução de oxigênio dissolvido;
- Afetar manguezais e áreas de proteção permanente (APPs);
- Bioacumulação de hidrocarbonetos em organismos aquáticos.
Medidas técnicas recomendadas:
- Barreiras de contenção flutuantes;
- Planos de Emergência Individual (PEI) aprovados pela autoridade ambiental;
- Sistemas de monitoramento e sensores de detecção em tempo real.
Movimentação de Cargas Perigosas
Portos frequentemente operam com cargas classificadas como perigosas (Classe 1 a 9 – NBR 7500). Isso inclui produtos inflamáveis, corrosivos, tóxicos e oxidantes.
Riscos associados:
- Vazamentos químicos e incêndios;
- Exposição ocupacional e contaminação do solo e da água;
- Reações químicas com materiais armazenados.
Boas práticas de mitigação:
- Armazenamento segregado conforme NBR 9735;
- Sinalização e controle de acesso a áreas de risco;
- Treinamentos NR-20 e NR-33 para operadores.
Resíduos Sólidos e Efluentes
Portos geram resíduos industriais, domésticos, perigosos e sanitários, além de efluentes oleosos e águas de lastro contaminadas.
Soluções técnicas:
- Estações de tratamento de efluentes (ETE) com separadores API (American Petroleum Institute) e DAF (Dissolved Air Flotation), usados para remover contaminantes, especialmente óleos e sólidos suspensos, de efluentes industriais, especialmente em refinarias e indústrias que geram efluentes oleosos. ;
- Implantação de PGRS Portuário integrado ao licenciamento;
- Conformidade com a Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios (MARPOL Anexos I e V).
Assoreamento e Dragagens
A manutenção da profundidade operacional demanda dragagens frequentes, o que pode gerar:
- Re-suspensão de metais pesados;
- Alteração de habitats bentônicos;
- Aumento da turbidez e impactos na fotossíntese aquática.
Medidas recomendadas:
- Estudos de modelagem hidrodinâmica;
- Cortinas de turbidez durante a dragagem;
- Análise de sedimentos segundo CONAMA nº 454/2012.
Poluição Atmosférica e Sonora
Operações com caminhões, guindastes, rebocadores e empilhadeiras geram emissão de MP, NOx, SOx e compostos orgânicos voláteis.
Medidas de controle:
- Inventários de emissões conforme metodologia do IPCC;
- Transição energética para equipamentos elétricos ou híbridos;
- Barreiras acústicas e monitoramento de ruído conforme NBR 10151.
Estratégias Avançadas de Mitigação
Sistemas de Gestão Ambiental Certificados
Adoção da ISO 14001 garante conformidade legal e melhoria contínua. A integração com ISO 45001 (segurança) e ISO 50001 (energia) é recomendada.
Uso de Inteligência Artificial e IoT
- Monitoramento em tempo real de emissões e vazamentos;
- Machine learning para análise de padrões e prevenção de incidentes;
- Dashboards georreferenciados para gestão integrada.
Estudos Ambientais com Base em Modelagem Computacional
Simuladores como AERMOD (ar), DELFT3D (águas) e softwares GIS aplicados à análise multicritério aumentam a eficiência no planejamento e no licenciamento ambiental.
Licenciamento Ambiental Aplicado a Portos
O licenciamento ambiental é uma exigência legal prévia à instalação de qualquer empreendimento que envolva infraestrutura portuária no Brasil. A competência para autorizar e monitorar esse processo é compartilhada entre os órgãos estaduais de meio ambiente e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), ambos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente (SISNAMA).
O processo de licenciamento ambiental ordinário consiste em três etapas principais:
- Licença Prévia (LP): Emitida na fase de planejamento, atesta a viabilidade ambiental do empreendimento e estabelece os requisitos básicos a serem atendidos nas próximas fases.
- Licença de Instalação (LI): Autoriza o início da construção ou instalação do empreendimento, desde que cumpridos os requisitos estabelecidos na LP.
- Licença de Operação (LO): Permite o início das atividades operacionais, após a verificação do cumprimento das condições estabelecidas nas licenças anteriores.
O processo inicia-se com a solicitação de um Termo de Referência ao órgão ambiental competente. Este documento orienta o empreendedor na elaboração dos estudos ambientais obrigatórios, como o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), que detalham os impactos e a viabilidade ambiental do projeto.
Para a obtenção da LI, é necessária a apresentação de estudos específicos, como o Relatório de Controle Ambiental (RCA) e o Plano Básico Ambiental (PBA), que descrevem as ações de mitigação dos impactos identificados. A emissão da LO depende da verificação do cumprimento de todas as condicionantes estabelecidas nas licenças anteriores.
Além disso, o Ministério de Portos e Aeroportos acompanha e coordena o licenciamento ambiental de diversos portos marítimos, especialmente no âmbito do Programa Nacional de Dragagem (PND), que inclui obras de dragagem de aprofundamento e manutenção em portos como Santos, Salvador, Rio de Janeiro, entre outros.
A mitigação de riscos ambientais em áreas portuárias não é apenas uma exigência legal — é uma estratégia operacional que fortalece a segurança, a competitividade e a reputação ambiental do setor logístico.
Conforme o Anexo 1 da Resolução CONAMA nº 237/1997, os portos e terminais estão enquadrados como empreendimentos potencialmente poluidores ou causadores de degradação ambiental, o que reforça a necessidade de controle técnico rigoroso.
Investir em planejamento ambiental, tecnologia, capacitação de equipes e diálogo com stakeholders torna os portos mais resilientes, eficientes e alinhados às metas globais de sustentabilidade e transição energética.
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