Dia do Pecuarista

No dia 15 de junho, celebra-se o Dia do Pecuarista, uma data dedicada à valorização dos profissionais que desempenham papel essencial na cadeia produtiva do agronegócio nacional. Mais do que reconhecer a importância econômica da pecuária, a data convida à reflexão sobre o papel da atividade no contexto das mudanças climáticas, da conservação ambiental e da transição para sistemas produtivos sustentáveis.

A pecuária brasileira, notadamente bovinocultura de corte e leiteira, ocupa segundo o MapBiomas (2023) cerca de 164 milhões de hectares, ou aproximadamente 19% do território nacional, representando também mais de 60% da área agropecuária do país. Essa ampla cobertura territorial impõe responsabilidades ambientais expressivas, exigindo uma abordagem técnica para compatibilizar produtividade, preservação e cumprimento da legislação ambiental vigente.

Fonte: MapBiomas – Pastagem, Soja e Cana ocupam 77% da área agropecuária no Brasil, 2023.

Fundamentos da Pecuária Sustentável

A pecuária sustentável pode ser definida como um modelo produtivo que busca equilíbrio entre eficiência zootécnica, viabilidade econômica e integridade ecológica. Seu objetivo é atender à demanda por proteína animal sem comprometer os ecossistemas, os recursos hídricos, o solo e a biodiversidade, ao mesmo tempo em que garante o bem-estar animal e respeita os limites da legislação ambiental.

Entre os fundamentos técnicos da pecuária sustentável, destacam-se:

Uso Racional do Solo

A degradação de pastagens afeta mais de 50% das áreas utilizadas pela pecuária no Brasil. Esse processo acarreta perda de matéria orgânica, compactação, erosão, assoreamento de corpos hídricos e redução da capacidade de suporte.

O manejo sustentável do solo requer:

• Diagnóstico da fertilidade e estrutura do solo;
• Calagem e adubação corretiva conforme análise química;
• Planejamento da taxa de lotação animal conforme capacidade de suporte;
• Rotação e reforma periódica de pastagens;
• Cobertura vegetal contínua para redução de impacto das chuvas e insolação direta.

Eficiência na Cadeia de Produção de Alimentos

A baixa eficiência alimentar dos sistemas tradicionais de pasto extensivo é um gargalo tanto zootécnico quanto ambiental. O aumento da produtividade por área e por animal é um vetor essencial da sustentabilidade, pois reduz a pressão por abertura de novas áreas.

Estratégias técnicas incluem:

• Suplementação estratégica (proteica, energética e mineral);
• Melhoramento genético de rebanhos;
• Planejamento alimentar conforme estágio fisiológico do animal;
• Monitoramento do ganho médio diário (GMD) e conversão alimentar.

Gestão Hídrica

A pecuária demanda grandes volumes de água, tanto para dessedentação dos animais quanto para higienização de instalações, irrigação de forragens e processamento de dejetos. A gestão hídrica sustentável envolve:

• Captação legalizada e uso racional dos recursos hídricos;
• Monitoramento de vazão e consumo hídrico por categoria animal;
• Proteção de nascentes e matas ciliares;
• Tratamento e reuso de águas residuárias (quando aplicável);
• Adoção de sistemas de abastecimento de baixo desperdício.

Manejo de Dejetos e Efluentes

A disposição inadequada de dejetos e efluentes zootécnicos pode causar contaminação de solos, aquíferos e cursos d’água. É imprescindível a adoção de planos estruturados de manejo, conforme volume gerado, composição, destino e normas ambientais estaduais.

As diretrizes técnicas incluem:

• Cálculo da carga orgânica e volume diário de produção;
• Armazenamento seguro em esterqueiras ou biodigestores;
• Tratamento por lagoas anaeróbias, aeróbias ou compostagem;
• Aplicação controlada como fertilizante, respeitando limites de absorção e restrições ambientais.

Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE)

A pecuária responde por cerca de 70% das emissões do setor agropecuário no Brasil, principalmente pela fermentação entérica (metano – CH₄) e pela decomposição de dejetos (óxido nitroso – N₂O e metano).

As estratégias técnicas de mitigação incluem:

• Aumento da taxa de lotação e da produtividade animal por área;
• Redução da idade ao abate e maior precocidade sexual;
• Suplementação com aditivos que reduzem fermentação metanogênica;
• Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) como estratégias de sequestro de carbono.

Bem-Estar Animal e Sanidade

A saúde dos animais influencia diretamente o desempenho zootécnico e o impacto ambiental da atividade. Sistemas com alta taxa de mortalidade, doenças e estresse térmico tendem a apresentar produtividade inferior e maior intensidade de emissões.

Aspectos técnicos relevantes:

• Dimensionamento adequado de instalações e sombreamento;
• Ambiência térmica para conforto animal;
• Monitoramento de parâmetros sanitários;
• Transporte, manejo e abate humanitários.

Pecuária e Legislação Ambiental

A sustentabilidade da pecuária não é apenas uma boa prática, mas também uma exigência legal. Propriedades rurais devem se adequar à legislação ambiental federal, estadual e municipal, destacando-se:

Código Florestal (Lei nº 12.651/2012)

Estabelece critérios para a conservação de Áreas de Preservação Permanente (APPs), Reserva Legal (RL) e uso consolidado de áreas antropizadas. As propriedades pecuárias devem:

• Estar inscritas no Cadastro Ambiental Rural (CAR);
• Manter a cobertura vegetal mínima exigida;
• Restaurar áreas degradadas conforme passivos identificados;
• Observar restrições legais para uso de APPs em atividades pecuárias.

Licenciamento Ambiental

Embora a pecuária extensiva em pequena escala não exija licenciamento em muitos estados, sistemas de confinamento, semi-confinamento ou produção intensiva de leite, geralmente requerem Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO), emitidas por órgãos ambientais estaduais.

O processo envolve:

• Apresentação de Relatório Ambiental Simplificado (RAS) ou Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA);
• Avaliação de riscos ambientais;
• Implantação de medidas de controle e monitoramento contínuo.

Gestão de Resíduos (Lei nº 12.305/2010)

A disposição de resíduos orgânicos (estercos, camas, restos de ração) deve seguir princípios de não geração, redução, reutilização e disposição ambientalmente adequada:

• Classificação dos resíduos;
• Elaboração de Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS);
• Destinação conforme normas da ABNT NBR 10004-1:2024.

Indicadores de Sustentabilidade em Sistemas Pecuários

A medição e monitoramento de indicadores ambientais são fundamentais para garantir a melhoria contínua do desempenho da atividade.

A adoção de inventários de emissões, balanços hídricos, monitoramentos de solo e água e auditorias ambientais internas compõem o sistema de gestão ambiental moderno da pecuária.

Tendências Regulatórias e Mercadológicas

O avanço da agenda climática global, a evolução de sistemas de rastreabilidade, e o fortalecimento de mecanismos ESG estão redefinindo os padrões exigidos para comercialização de produtos pecuários:

• Exigência de desmatamento zero nas cadeias exportadoras;
• Certificações ambientais (Carne Carbono Neutro, Orgânico);
• Crédito de carbono agropecuário;
• Valoração de ativos ambientais;
• Financiamentos e seguros atrelados a critérios ambientais.

A transição da pecuária brasileira para modelos sustentáveis é irreversível e encontra respaldo técnico, normativo e científico. A sustentabilidade da atividade exige uma abordagem sistêmica e integrada, baseada em evidências, indicadores, cumprimento legal e inovação.

Neste Dia do Pecuarista – 15 de junho, a Greenview Engenharia & Consultoria Ambiental reafirma seu compromisso com o desenvolvimento de soluções técnicas robustas e ambientalmente seguras para o setor agropecuário. Atuamos lado a lado com o produtor, contribuindo para a regularização ambiental, o aprimoramento produtivo e o acesso a mercados exigentes e valorizados.

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